Por Dr. Marcio Rogério Renzo
Segundo a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial: “A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis pressóricos maiores ou iguais a 140 e/ou 90 mmHg. Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvos, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco, como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito. Mantém associação independente com eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca, doença arterial periférica e doença renal crônica, fatal e não fatal.”.
Como visto, a definição de hipertensão arterial é tão extensa e tão abrangente quanto seus efeitos sobre nossa vida. É uma doença crônica, controlável, porém não há cura, requerendo atenção contínua por toda a vida do paciente. A doença que se desenvolve ao longo da vida e sem ocasionar sintomas, muitos só descobrem que são hipertensos quando apresentam complicações graves.
A hipertensão arterial deve ser considerada um problema de saúde pública. É um importante fator de risco cardiovascular e sua prevalência gira em torno de 35%, havendo predomínio dos homens (40,1 %) sobre as mulheres (32,2%). Grande parte dos hipertensos desconhece sua condição e, dos que conhecem, apenas cerca de 21% apresentam controle adequado.
A hipertensão arterial é uma doença que atinge aproximadamente 36 milhões de brasileiros e cerca de 50% destes não sabem que são hipertensos, por serem muitas vezes assintomáticos, sendo considerado importante fator de risco para as doenças cardiovasculares ateroscleróticas, incluindo acidente vascular encefálico (AVE), doenças coronarianas, insuficiência vascular periférica e cardíaca.
Referente a fatores associados a práticas de controle da hipertensão em idosos, mostram que aproximadamente 22% da população brasileira acima de 20 anos são hipertensos, sendo a hipertensão responsável por 80% dos casos de acidentes vasculares, 60% dos casos de infarto agudo do miocárdio e 40% das aposentadorias precoces. Para os brasileiros, isso significa um custo anual de 475 milhões de reais, com 1,1 milhões de internações por ano.
O causador da hipertensão arterial não pode ser identificado, contudo sabe-se que muitos são os fatores que propiciam a instalação da doença. Algumas das condições que favorecem o aparecimento da doença são eles: idade, sexo, hereditariedade, raça (maior prevalência em não brancos), obesidade, estresse, anticoncepcionais orais, dieta rica em sódio e gorduras e diabetes melito.
Chamada de “assassina silenciosa”, a “pressão alta” vai exercendo seus estragos silenciosamente sem que a pessoa se aperceba. Sintomas que geralmente são indicativos de “pressão alta” como dor de cabeça, vertigens, visão borrada, são raramente observados. A única maneira de diagnosticar a hipertensão é aferindo a pressão e tratando-a a tempo, antes que as consequências sobre os vasos e os órgãos reguladores se manifestem. Por isso é tão importante uma conscientização das pessoas sobre a necessidade de fazer uma avaliação periódica da pressão, principalmente se houver história familiar.
A hipertensão é classificada de três formas: de acordo com a causa, a gravidade e o tipo. Os dois tipos básicos são: hipertensão idiopática, também conhecida como primária ou essencial que é a mais comum (90 a 95% dos casos) e a hipertensão secundária, causada por alterações nos órgãos responsáveis pelo controle da pressão arterial.
Classificação da pressão arterial de acordo com a medição casual ou no consultório a partir de 18 anos de idade.
Mas como é feito o tratamento da hipertensão arterial?
O início do tratamento medicamentoso é sempre maneira individualizada. O profissional de saúde deve levar em consideração a condição funcional do paciente, perfil do paciente quanto ao engajamento ao tratamento, lesões em órgãos reguladores, além, evidentemente, da aferição da pressão arterial. Deve-se recomendar inicialmente mudanças no estilo de vida, com intuito de diminuir o uso de medicamentos e por sua vez, seus efeitos colaterais em uma população, principalmente no caso dos idosos, que já convive com a polifarmácia (uso de vários outros medicamentos para outras doenças).
Os tratamentos não medicamentosos são os primeiros a serem utilizados, especialmente nos casos brandos recém-detectados. Se essas medidas não forem eficazes, o tratamento então evolui, de maneira progressiva, para incluir vários tipos de medicações anti-hipertensivas.
Para o controle adequado da hipertensão não é suficiente apenas às medidas de orientação, mas também, estratégias que auxiliem as pessoas nas mudanças de atitude. As mudanças de hábitos devem ser esclarecidas ao paciente, orientar quanto aos fatores de risco e sobre como ela contribui para a elevação da pressão arterial de acordo com a faixa etária dos hipertensos.
Assim, é fundamental o acompanhamento sistemático dos indivíduos acometidos por esta doença, especialmente no nível da atenção básica à saúde, mais próxima e acessível à essa população.
Como a mudança em meu estilo de vida pode ajudar?
Mudanças no estilo de vida desses pacientes que contribui grandemente no tratamento consiste na redução do peso corporal, redução na ingestão de sódio, redução do consumo de bebidas alcóolicas e a prática constante de exercícios físicos. Sabe-se que, no caso dos idosos, esses apresentam limitações físicas que o impede a prática de alguns exercícios, entretanto as outras medidas podem ser tomadas.
Além da alteração de hábitos de vida, o controle da polifarmácia é imprescindível. Muitos pacientes fazem uso de medicações capazes de elevar a PA, como os anti-inflamatórios não esteroides, os antialérgicos, os antidepressivos tricíclicos, os hormônios tireoidianos em altas doses, os antiácidos ricos em sódio e moderadores de apetite.
Programas de exercícios físicos são fundamentais para pacientes com hipertensão, pois, além de estarem sujeitos aos efeitos da hipertensão, como a diminuição da capacidade funcional, e aqui, cabe dar destaque ao caso dos idosos pois estes também estão sujeitos às limitações físicas inerentes ao avanço da idade. Sendo válido ressaltar que idosos hipertensos apresentam 4,2 vezes mais chances de desenvolverem limitações funcionais, ou 39% mais chances de serem dependentes nas atividades da vida diária que pessoas com a pressão arterial normal.
Estudos demonstram que a prática de um estilo de vida mais ativo está associado à prevenção ou à atenuação das limitações funcionais, portanto, além dos efeitos de redução da pressão arterial e fatores associados, os exercícios físicos podem prevenir contra doenças cardiovasculares e diminuir o declínio da capacidade funcional, além de proporcionar aos idosos a realização de suas atividades diárias de forma mais segura e independente, melhorando a qualidade de vida mesmo na presença de outras doenças crônicas.
É importante dar um destaque especial aos idosos mais frágeis. A fragilidade no idoso está relacionada à capacidade de manutenção da funcionalidade de seus sistemas fisiológicos. Como consequência, estes idosos apresentam um elevado risco de incapacidade e morte. Em um estudo realizado com idosos a partir de 65 anos foi constatado que 10% eram considerados frágeis. Já em idosos acima de 85 anos, observou-se que até 50% apresentaram fragilidade. Sabe-se que os idosos frágeis apresentam níveis pressóricos mais elevados. Ao mesmo tempo, esta população é a que possui maior risco de danos ao se baixar a pressão arterial.
Essa fragilidade também interfere na adesão ao tratamento medicamentoso, pois quanto maior o grau de fragilidade, menos será a adesão ao tratamento. Sabe-se também que em idosos com grande comprometimento cognitivo o tratamento, além de não trazer benefícios, pode ainda piorar a cognição. Outro risco de se baixar a pressão arterial em idosos frágeis está no fato de alguns deles necessitarem de níveis pressóricos mais elevados para manter a perfusão de alguns órgãos, dada a rigidez dos vasos por aterosclerose.
A prática regular de atividade física pode gerar benefícios à população em idade mais avançada, como o aumento da resistência e da força muscular, maior flexibilidade articular e capacidade aeróbia, melhor coordenação e equilíbrio, perda de peso e melhor administração das doenças crônicas e das deficiências. Assim, esses benefícios podem ocasionar uma melhora da capacidade funcional, o que resulta em reversão da fragilidade, decréscimo do risco de mortalidade entre os indivíduos com bom nível de aptidão física e elevado gasto energético.
A avaliação da qualidade de vida em idosos hipertensos, tanto sedentários como não sedentários, mostra-se necessária tendo em vista as implicações que o processo de envelhecimento traz, tornando-os consideravelmente menos ativos, o que, em associação com aspectos psicológicos e sociais, induz a uma marcante diminuição da capacidade física que contribui com o desenvolvimento de condições crônicas específicas, como a hipertensão.
Como a fisioterapia pode ajudar no tratamento e na prevenção da hipertensão arterial sistêmica (HAS)?
O fisioterapeuta possui atribuições específicas, dentre elas, dar assistência a todas as fases do ciclo de vida, atender pacientes com doenças exclusivas, bem como, orientar, prevenir e melhorar a qualidade de vida; com base nessas prerrogativas insere-se a responsabilidade desse profissional em relação ao tratamento da hipertensão arterial.
A atividade física repercute na parte preventiva e de tratamento para HAS, visto que apresenta impacto na redução dos valores de pressão arterial e consequentemente diminui o risco de doença coronariana, já que esta constitui uma complicação da HAS.
A falta de atividade física apresentou mudança no grau de risco para as doenças arteriais coronarianas, elevando de um fator secundário para primário. O fisioterapeuta possui uma função importante no que diz respeito à prescrição e orientação dessa atividade física que deve ser adjunta dos medicamentos necessários e de alterações nos hábitos de vida.
As atividades físicas mais indicadas aos pacientes hipertensos são os exercícios aeróbicos (caminhada, andar de bicicleta, natação, corrida, dançar, etc.) sempre de maneira moderada, com uma frequência ideal de três vezes por semana, por trinta minutos, pelo menos.
Deve-se evitar exercícios anaeróbicos e/ou isométricos, (exercícios em que haja a necessidade, durante a execução, de prender a respiração) pois esses exercícios promovem picos de pressão arterial elevados. É importantíssimo para esses pacientes o acompanhamento de um profissional qualificado!
Mitos e verdades sobre a hipertensão.
Paciente com hipertensão pode se alimentar de comida com sal?
Verdade. O que deve ser evitado é o exagero no uso do sal. O sal pode interferir no aumento da pressão arterial, pois ele proporciona uma retenção de líquidos, porém usado em quantidade adequadas não há problemas. É importante destacar outros alimentos que possuem alto teor de sódio e, portanto, devem ser evitados, como os refrigerante “zero açúcar”, alimentos em conserva (azeitonas, maioneses, milhos, ervilhas, etc.), alimentos embutidos (salsichas, mortadelas, linguiças, presuntos, salames, etc.) carnes salgadas (charque, bacalhau, carnes secas, defumados, etc.) queijos em geral, lembrando que os mais maturados e secos possuem maior concentração de sal por pedaço, devendo dar-se preferências aos queijos brancos e ricotas sem sal.
Bebidas alcoólicas aumentam a pressão arterial?
Verdade. A ingestão de bebidas alcoólicas em demasia, aumenta a pressão arterial. Há também que se diferenciar no caso de homens e mulheres, pois esta geralmente deve consumir metade do valor observado para os homens, devido a sua fisiologia. Se o indicado ao homem é no máximo dois copos de cerveja, ou duas taças de vinho (de preferência tinto seco). Ou uma dose de bebidas destiladas (30mg de álcool) por dia. A mulher deverá ingerir a metade desses valores.
A hipertensão pode ser controlada somente com alimentação saudável e exercícios físicos?
Mito. Não há dúvida que hábitos saudáveis ajudam na prevenção, todavia há casos em que não é possível o controle somente com essas atitudes, uma vez que há o descontrole por questões relacionadas aos órgãos reguladores que necessitarão de medicamentos para que seja obtido o controle.
O uso de medicamentos para o combate à hipertensão afeta o desempenho sexual?
Depende. O desempenho sexual pode ser afetado com o uso de alguns medicamentos. Porém hoje já há medicações que não afetam o desempenho sexual. Consulte sempre o médico, caso note alguma diferença.
O stress faz aumentar a pressão arterial?
Verdade. Fatores psicológicos, problemas financeiros, problemas no trabalho, estresses emocionais desencadeiam e mantem os níveis de pressão mais elevados, além de funcionar como empecilhos à adesão ao tratamento e a mudança para hábitos mais saudáveis. Porém é essencial que ao perceber que tais problemas estão afetando sua saúde, procure consulta com um profissional qualificado. Lembrando que nem todo tipo de stress é ruim. Toda alteração que nosso organismo recebe do meio ele responde com uma ação, portanto pode provocar elevação da pressão arterial. Um exemplo disso é a prática de algum esporte, como o futebol, em resposta a corrida atrás da bola, haverá uma elevação dos batimentos cardíacos, e por consequência a elevação da pressão arterial. Isso é totalmente esperado e sadio, pois seu corpo necessita de mais suprimento para correr, o que não é normal é após parrar de correr sua pressão não retornar aos patamares normais. Esteja atento!!
Para finalizar, segundo o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), todo os dias morrem no Brasil 388 pessoas devido à hipertensão arterial sistêmica. A prevenção é o melhor remédio para todas as doenças. Ao sentir qualquer alteração no seu corpo, nas suas reações, nos seus sentidos procure ajuda profissional. O quanto antes for detectado o problema, melhor será o prognóstico. Ter amor próprio é se cuidar em todos os sentidos!!!
Fontes:
- 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial – Revista Brasileira de Hipertensão. Volume 24 – Número 1, 2017 em http://departamentos.cardiol.br/sbc-dha/profissional/revista/24-1.pdf.
- Fundamentação teórica Hipertensão Arterial Sistêmica – HAS, acessado em https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/pab/5/unidades_casos_complexos/unidade27/unidade27_ft_has.pdf
- Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, site acessado em 15/11/20 https://www.conasems.org.
br/hipertensao-e-a-doenca-que-mais-mata-no-brasil/
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