O transtorno de personalidade borderline é descrito por uma instabilidade emocional, impulsividade, relacionamentos intensos e tumultuados, além de uma autoimagem distorcida, sendo observado predominantemente (cerca de 75%) em mulheres. Na psicanálise, o TPB é visto como resultado de conflitos internos profundos, frequentemente relacionados a experiências precoces de desenvolvimento.
O TPB pode ocorrer de forma concomitante a um transtorno depressivo ou bipolar, desta forma, podemos confundir seus diagnósticos. O profissional deve evitar o diagnóstico com base em apresentações dos sintomas momentâneos, deve-se ter o cuidado de observar o paciente num curso prolongado e bem documentado. Outros transtornos de personalidades também podem ser confundidos com o borderline. É importante destacar que apresentando características de mais de um transtorno, todos devem ser documentados e considerados.
Outro fato importante, é que algumas condições médicas relacionadas ao sistema nervoso central podem dificultar o diagnóstico e, portanto, deve ser atentamente observado. Outros pontos também a se considerar é o uso de substâncias que causem alterações psicológicas e problemas de identidade relacionados às fases de desenvolvimento, por exemplo a adolescência, cuja situação não se enquadre como um transtorno mental.
Dentro da visão psicanalítica são observados alguns pontos importantes neste transtorno, que diferencia a abordagem deste paciente das demais técnicas psicológicas, como segue:
· Exploração do Inconsciente: tem o objetivo de trazer os pensamentos e as emoções reprimidas que influenciam o comportamento e as emoções do paciente. É utilizada a associação livre e a análise de sonhos, onde o terapeuta pode ajudar o paciente a acessar e entender os pensamentos inconscientes que podem causar instabilidade emocional.
· Compreensão do Desenvolvimento Psicológico: pacientes borderline tiveram experiências de insegurança ou traumas na infância. Através da exploração desses eventos, o psicanalista busca entender como eles moldaram a personalidade e os mecanismos de defesa do paciente. Entender as fases do desenvolvimento psicossexual e os conflitos não resolvidos pode oferecer dicas valiosas para a terapia.
· Análise da Transferência e Contratransferência: Pacientes com TPB frequentemente transferem sentimentos intensos para o terapeuta, replicando padrões de relacionamentos passados. A análise dessa transferência pelo terapeuta permite que ele entenda esses sentimentos, ajudando o paciente a ter consciência de seus padrões emocionais e comportamentais.
· Fortalecimento do Ego: O borderline está frequentemente ligado a um ego frágil e a dificuldades em regular emoções. A terapia psicanalítica trabalha para fortalecer o ego, ajudando o paciente a desenvolver um senso mais estável de identidade e autocontrole. Técnicas psicanalíticas ajudam o paciente a juntar aspectos conflitantes de si mesmo, promovendo uma autoimagem mais forte.
· Mecanismos de Defesa e Resolução de Conflitos Internos: Indivíduos com TPB usam mecanismos de defesa como a divisão (ver pessoas e situações em termos extremos de totalmente boas ou totalmente más). Sabendo disso, o analista ajuda o paciente a reconhecer e substituir esses mecanismos de defesa disfuncionais por formas mais flexíveis de lidar com conflitos internos.
· Integração de Experiências Emocionais: Através da terapia, o paciente pode começar a juntar experiências emocionais fragmentadas em sua mente, promovendo uma compreensão mais profunda de seus sentimentos e comportamentos. O objetivo terapêutico é promover a capacidade do paciente de tolerar e processar emoções intensas sem recorrer a comportamentos impulsivos.
· Estabelecimento de Relações Saudáveis: Outro objetivo da terapia é ajudar o paciente a entender e modificar os padrões destrutivos em seus relacionamentos. Dentro do espaço seguro da terapia, o terapeuta ajuda-o a explorar e experimentar novas formas de se relacionar com os outros.
· Redução de Sintomas e Melhora da Qualidade de Vida: A longo prazo, a psicanálise pode levar a uma redução significativa dos sintomas do TPB, como a impulsividade, a instabilidade emocional e os comportamentos autodestrutivos. Quando se promove uma maior compreensão e aceitação de si mesmo, o paciente pode melhorar a qualidade de vida e sua funcionalidade.
Ainda dentro do campo da psicanálise, a hipnose, pode ajudar muito na compreensão e ressignificação de situações “gatilhos” que elevam muito a suscetibilidade de ocorrências, como: alterações de humor bruscas, eventos impulsivos, posicionamentos autodestrutivos e outros.
A terapia psicanalítica para TPB, como todo e qualquer processo terapêutico, é profundo e complexo, desta forma, exige um compromisso muito forte do paciente e do terapeuta. No entanto, com tempo e dedicação, a terapia proporciona uma melhora muito expressiva na saúde mental e no bem-estar do paciente.
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